terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Coisas "históricas"


Uma experiência interessante... apesar de não ser exatamente o que eu gostaria de ouvir, me deu muito o que pensar...


O curso de Integração promoveu um passeio pela cidade. Com a professora e o guia, visitamos várias instituições, vimos algums pontos históricos, entendemos um pouco sobre a arquitetura da cidade, as influências da Guerra, passamos por lugares que vivenciaram o auge da revolução industrial, embora, revelassem a condição de pobreza dos operários, com expectativa de vida de aproximadamente 30 a 35 anos. Famílias de 8, 9 filhos em que só 1 ou 2 conseguiam sobreviver. Hoje, o local é um lindo parque. Vimos a parte da cidade que foi reconstruída após os bombardeios da Segunda Guerra, uma vez que a cidade era um "refúgio" para os oficiais da ocupação. Vimos a escola que dá opção de escolha de religião. Ouvimos a história do garoto homenageado com uma grande estátua no centro da cidade.


Dentre tantos lugares, histórias, prédios públicos, instituições ligadas a causas de imigração, que muito nos interessa, passamos por uma igreja.

Nada parecida com as igrejas católicas daqui. Mas um prédio com cara de igreja, "parede com parede" com vizinhos comuns.

Ali paramos e o guia explicou que aquela era a Igreja Protestante da cidade. Fundada no Século XIX. A igreja é a única da Europa a possuir um órgão de tubos de bambu; um orgulho para a cidade. Achei interessante e fiquei curiosa para ver o órgão em alguma apresentação ou culto deles. Não entendi a diferença entre a igreja protestante com letras maiúsculas e a igreja evangélica que frequento com o esposo. As igrejas evangélicas não tem pastores, mas anciãos. Me parece que não há formação de pastores por aqui. As igrejas das quais já ouvi falar que tem pastores, normalmente são estrangeiros. Ouvi falar de uma igreja batista e de uma outra igreja cristã, não católica e que tem pastor também. Mas também percebi que para alguns, pastorado, absolutismo e nepotismo andam de mãos dadas. Triste visão, mas ai daqueles que deram razão às pessoas para pensarem dessa forma.

Marquei bem onde ficava a rua da igreja. Os quarteirões do centro são pequenos mas não são regulares... então é preciso muita atenção para não se perder. Eu já experimentei a sensação de andar e ir a lugar nenhum rsrsrs
Mas me baseei em algo meio complicado. Vi uma grua trabalhando e pensei:"é a rua da grua".

Alguns dias depois passei pela cidade, andando e me guiando pela grua e cheguei em frente à igreja. A grua estava lá. Ainda bem! Uma semana depois, já não estava.

Havia um quadro de avisos do lado de fora e fiquei procurando informações sobre horários de culto. Encontrei, memorizei e fiquei tentando ler outras coisas, como por exemplo o anúncio de um funeral. Aqui, enterram as pessoas quase 1 semana depois.

Enquanto lia, um senhor de cabelos muuuuito brancos, parou e perguntou se eu falava holandês. Com certeza percebeu que eu era estrangeira. Eu disse que falava um pouquinho e ele desandou a falar. Ele tinha uma valise na mão e como parou bem em frente aos degraus da igreja, pensei que fosse entrar. Ele perguntou se eu conhecia a igreja.

Eu disse que conhecia um pouco da igreja e que no meu país sou de uma igreja também. Então ele começou a contar a história da igreja protestante. E disse que foi fundada na época em que a igreja católica não permitia sepultamento de não católicos em seus cemitérios; aqui há muitos cemitérios no terreno da igreja. Por isso, os não católicos não tinham onde enterrar seus mortos e isso gerou um clima muito complicado na cidade. Então, os protestantes fundaram sua igreja organizada e também adquiriram seus "direitos" religiosos para enterrarem seus mortos.

Ele falava com orgulho do fato de as pessoas terem "lutado" por algo e terem conseguido. A história da Bélgica tem essa característica em muitos aspectos e as pessoas falam com orgulho de seu país, sabendo que hoje desfrutam de grandes benefícios porque seus antepassados tiveram visão e lutaram por direitos e melhores condições de vida.

E o senhorzinho continuo explicando sobre o órgão de tubo... que é o único órgão de tubo de bambu da Europa e se não me engano, só existem 6 no mundo todo. E enquanto falava com tanto entusiasmo, perguntei a ele, "o senhor participa dos cultos?"

E aí... parece que o mundo caiu! Ele ficou meio desajeitado, começou a gesticular e disse "eu não venho... eu não vou a igreja nenhuma".... e acenava para a igreja como se dissesse, "isso não é para mim".

E eu disse que visitaria a igreja. Mas depois da resposta dele... parecia que todo orgulho pela conquista histórica da igreja já não fazia mais sentido. Eu mesma fiquei desapontada... acho que ele se sentiu pior ainda... E pensar que eu achava que ele era o pastor! Ele era tão empolgado!


E não consegui parar de pensar no fato.
Há pessoas que sabem tanto sobre a igreja... mas não acham que a igreja seja para elas.
E fiquei pensando no perigo que isso representa para o povo de Deus, que tantas vezes encontra-se distraído ou muito ocupado para perceber certas brechas.
Há tantos que consideram a igreja um lugar agradável para si mesmos ou para seus filhos, conhecem todos os trabalhos... mas a igreja continua "não sendo para eles".

O que dizer então, da "mensagem", da "Verdade" ensinada dentro das paredes do prédio....
Ou ainda... daquilo que deveríamos ensinar para os outros, para nossas crianças, adolescentes e jovens....

Por que será que continuamos sendo sempre vítimas espirituais...? Em lugar de produzirmos frutos, passamos anos tentando resolver os problemas causados pelos nossos primeiros rudimentos... nosso mau gênio, nossa vida ocupadíssima, nossas carências sempre mal resolvidas... nossa dificuldade de entender que temos que trabalhar para o Rei e não para a promoção do nosso "reinado"....

E me preocupei comigo mesma. De repente me vi numa trégua da vida. Um lugar tranquilo, uma casa pra cuidar, uma pracinha sossegada em frente às minhas janelas, um cachorrinho bacana, um esposo presente de Deus, uma família fantástica no Brasil, um novo começo, um novo idioma e qual é o desafio de agora?

Temi por ser uma grande conhecedora da igreja, mas não ter nada a oferecer na condição em que me encontro, no meu dia de hoje, no meu "Vivendo Intensamente para Deus Agora".

E passei a pedir oportunidades para testemunhar e sabedoria para falar coisas que ganhem as pessoas.

Nunca é demais refletir no quanto sabemos sobre a igreja e em quanto fazemos parte dela...o quanto cada um de nós é de fato, parte do corpo de ninguém menos do que Cristo.

Se eu tão somente pensar na minha vida e trabalhar por mudanças, com certeza Deus vai trabalhar meus resultados e vai usar para engrandecimento do Reino Dele. Que assim seja!
E desejo a todos o mesmo!

Essa é apenas uma das lições que aprendi aqui nesses quase 3 meses em que aqui moro. Fico feliz por saber que não deixei de meditar sobre minha vida e no que posso e devo fazer para o Mestre. Escrevo, para que o vento não leve as palavras embora. Assim, não me esquecerei dos propósitos que tenho feito e que não estou aqui por acaso!


Então vamos em frente!
Que Deus abençoe a todos nós!

Nenhum comentário:

Postar um comentário